Deus e a Lógica: Paradoxo de Epicuro
Poderiam Deus e o mal coexistir? Segundo
a lógica do filósofo grego Epicuro de Samos, o deus cristão não poderia existir
em um mundo onde o mal habita. Contudo, tal pensamento pode ser falseado
através de alguns conceitos cristãos.
O paradoxo diz:
- Se for omnipotente e omnisciente, então tem conhecimento de todo o Mal e poder para acabar com ele, ainda assim não o faz. Então Ele não é Bom.
- Se for omnipotente e benevolente, então tem poder para extinguir o Mal e quer fazê-lo, pois é Bom. Mas não o faz, pois não sabe o quanto Mal existe e onde o Mal está. Então Ele não é omnisciente.
- Se for omnisciente e benevolente, então sabe de todo o Mal que existe e quer mudá-lo. Mas isso elimina a possibilidade de ser omnipotente, pois se o fosse erradicava o Mal. E se Ele não pode erradicar o Mal, então por que chamá-lo de Deus?
Levando-se em
consideração a ideia geral do paradoxo, ele poderia ser resumido desta maneira:
“Se Deus é
bom então ele combate o Mal.”
Em linguagem
matemática, ou mais necessariamente, na lógica matemática, este tipo de
sentença (condicional) é estruturado desta maneira: “se p então q”, o que
significa dizer que “p implica q”:
p → q
A primeira condição
(p) é suficiente para a ocorrência da segunda, ou seja, ela garante que “q”
ocorra, o que não significa dizer que é a única maneira pela qual a segunda
pode ocorrer. E “q” é necessária para a ocorrência de “p”, ou seja, se “q” não
ocorrer, isso significa que “p” também não ocorreu:
~q → ~p
(lê-se “não q implica não p”).
Logo, pela lógica de
Epicuro, se Deus não combate o mal, então ele não é bom.
Mas, vamos fazer o
caminho contrário e utilizar uma sentença equivalente para entender se de fato
esta lógica se aplica a Deus: “Se Deus é mal então ele combate o bem”.
Veja que a sentença
mantem a mesma ideia da negativa de p e de q (Deus não combate o mal, logo ele
não é bom, e se ele não é bom, ele é mau). Já sabemos que a não ocorrência de “q”
implica a não ocorrência de “p”, e sabemos que Deus não combate o bem, logo ele
não é mau.
Então, a ideia de
que alguém é bom se este mesmo combate o mal é logicamente errônea (para se ser
bom, não é necessário combater o mal, mas apenas não praticá-lo).
Além disso, a
lógica de Epicuro bate de frente com outra questão: o livre-arbítrio. O livre-arbítrio
é o direito universal da escolha. Segundo esta ideia, Deus nos dá total liberdade
de agir e de decidir entre fazer o bem e o mal. Então, desde o momento em que
Deus interfere em nossas vidas, o livre-arbítrio deixa de existir. Daí pode-se
criar outra sentença lógica:
“Se Deus interfere
em nossas vidas então nós não temos o livre-arbítrio”.
Pelo cristianismo,
sabemos que somos dotados do livre-arbítrio, logo Deus não interfere em nossas
vidas. Poderíamos dizer também que “Deus só interfere em nossas vidas se, e
somente se, não temos o livre-arbítrio”:
p ↔ q = p →
q e q → p = ~p → ~q e ~q → ~p
Ou seja, para que
Deus possa intervir em nosso mundo de uma forma geral, é necessário que abramos
mão do nosso direito de escolha. Seja pelo bem ou pelo mal, é necessário
aceitar a vontade de Deus em nossas vidas para que enfim possamos vê-lo se
manifestar.